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sábado, 27 de abril de 2013

NOVOS BAIANOS: ACABOU CHORARE... 40 ANOS DEPOIS, UMA VIAGEM AO PRESENTE!

Os novos baianos

Gravado em 1972, Acabou Chorare é um dos discos mais influentes da história da música brasileira. Para lembrar e homenagear o álbum, que completou 40 anos em 2012, Moraes Moreira se apresentou no Opinião, Porto Alegre, em 25 de abril. No show, apresentou todo o disco, em seus arranjos originais. Por Marcelo Delacroix


No princípio era uma banda de rock. Jovens, baianos, hippies, cabeludos, influenciados pelas guitarras pesadas de Jimi Hendrix, o canto rasgado de Janis Joplin e toda aquela cena musical pós-Woodstock que havia chegado com força no Brasil, na virada dos 70.

Mas quando Os Novos Baianos gravaram o disco Acabou Chorare (1972), eles já traziam na bagagem as experiências de um primeiro disco anterior, É Ferro na Boneca (1970), e a célebre visita de João Gilberto, que apareceu de terno e gravata no apto em que viviam (todos juntos!) no Rio, e fez com que as coisas mudassem de rumo, para o grupo e para a música brasileira. Nesse encontro João apresentou ao grupo a música Brasil Pandeiro, samba clássico de Assis Valente (“Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”), descortinando diante deles todo o mundo do samba e da música brasileira, e falando da necessidade de “se voltarem para dentro de si mesmos”, num resgate das origens. “E fez-se a luz”!

Já vivendo num sítio em Jacarepaguá, passaram quase dois anos preparando o disco que recentemente foi o mais votado na lista dos 100 Maiores Discos da Música Brasileira, elaborada pela revista Rolling Stone Brasil em 2007, contando os votos de 60 críticos especializados. Após uma tentativa frustrada de gravação num estúdio, eles conseguiram fazer com que a gravadora Som Livre (na época dirigida pelo pai do Cazuza) aceitasse gravá-lo lá mesmo, no sítio onde moravam em comunidade, ensaiando dia e noite, respirando e se alimentando de música, paz (maconha) e amor. Eram apenas 4 canais e nenhum dos recursos modernos de edição e afinação. E não precisava!

O disco chegou rompendo definitivamente a barreira que separava o Rock e a Música Brasileira (numa época em que houve até passeata contra a guitarra elétrica, protagonizada por Gilberto Gil e Elis Regina), misturando violão, cavaquinho e pandeiro com as guitarras do rock e do trio elétrico; tocando ritmos brasileiros como samba, choro e baião, com a energia e a “pegada” do rock. Isso já era coisa que vinha aparecendo aqui ou ali, em Mutantes, Caetano, Gil e Tom Zé, mas pela primeira vez um grupo assumia essa sonoridade num disco inteiro, com uma unidade de proposta.

Além disso, fica evidente uma alegria e alto astral absolutamente incomuns na música brasileira daquela época que, ou chorava mágoas de amores sofridos por um lado, ou fazia discursos políticos engajados contra a ditadura, por outro, num cenário muito cinza.

Além de Brasil Pandeiro, o disco apresenta oito parcerias de Moraes Moreira com Galvão, Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor, incluindo sucessos como Preta Pretinha (‘’abre a porta e a janela e vem ver o sol nascer”), o rock-baião Tinindo trincando, a impagável Besta é tu, e a super pop A menina dança. E é claro, Acabou Chorare, que dá nome ao disco, composta em homenagem à filhinha de João Gilberto com Miúcha, Bebel Gilberto, e onde aparecem ainda mais evidentes toda a influência de João na música dos Novos Baianos, na harmonia da bossa nova e a maneira de cantar.

Numa aparente simplicidade que mal esconde a riqueza enorme de informações, na batida diferente e nas divisões rítmicas do violão de Moraes Moreira, nas vozes afinadas e ágeis de Baby Consuelo e seus colegas Moraes Moreira e Paulinho Boca de Cantor, alicerçados num power trio fortíssimo com Pepeu Gomes na guitarra e violões, Dadi Carvalho (A cor do Som, Tribalistas, Marisa Monte) no baixo, e as baterias e percussões de Baixinho e Jorginho Gomes (irmão de Pepeu), Acabou Chorare segue absolutamente atemporal, mais atual do que nunca, completamente de acordo com a sonoridade e a filosofia das produções atuais, que têm priorizado a coletividade, a espontaneidade e o clima do “ao vivo”, 40 anos depois. Acabou Chorare é uma viagem ao Presente

FONTE: SUL 21 e PORTAL VERMELHO: 
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=212181&id_secao=11

domingo, 21 de abril de 2013

VIDEO DEFINITIVO: ¿Que es Etnografia?


domingo, 7 de abril de 2013

PCdoB FORTALE RELAÇÕES COM O PARTIDO COMUNISTA DO VIETNÃ.

O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, recebeu na tarde da quinta-feira (4), o embaixador do Vietnã no Brasil, Duong Nguyen Tuong. O encontro ocorreu no Comitê Central do Partido, em São Paulo. O dirigente comunista afirmou que a Legenda tem uma longa relação de cooperação e amizade com o Partido Comunista do Vietnã (PCV).
 


À noite, o embaixador concedeu uma palestra onde expôs a transição do socialismo naquele país à luz do 11º Congresso do PCV, que ocorreu em 2011, onde foram definidas as diretrizes daquele país.

Ele lembrou que desde a independência do Vietnã, em 1945, a nação está construindo o socialismo e que para isso, foram necessárias reformas politicas de renovação para adequar o modelo à realidade vietnamita. “Garantimos bem-estar social e também aplicamos leis da economia do mercado para o Vietnã”, explicou.

Duong Nguyen Tuong, que foi soldado durante sete anos na guerra que derrubou o imperialismo estadunidense, explicou que o país tem um modelo de socialismo com características próprias e que o objetivo geral é construir bases sólidas e uma política adequada.

O embaixador agradeceu a iniciativa do PCdoB em realizar a palestra e destacou: “Tentamos construir uma sociedade com uma cultura avançada e identidade nacional”. E ressaltou que a unidade interna é fundamental para consolidar o partido.

 

Missão





Na próxima segunda-feira (8), uma delegação liderada por Renato Rabelo e composta pelo secretário de Relações Internacionais, Ricardo Alemão Abreu e pelo secretário de Planejamento do PCdoB, Ronald Freitas, participará de um encontro em Hanói, capital do Vietnã. Os comunistas brasileiros também participam de encontros em Ho Chi Minh.

Renato explicou que a cada três anos os partidos promovem encontros entre suas direções nacionais para discutir experiências e pontos de vistas. “Esses encontros buscam impulsionar a cooperação entre os dois povos e é uma maneira de estabelecermos uma agenda comum”.
 

Brasil-Vietnã






Para fortalecer os laços de solidariedade, cooperação e amizade entre o Brasil e o Vietnã foi criada em 2012, a Associação de Amizade Brasil-Vietnã (Abraviet), com sede em Brasília. Esta associação conta com a participação de setores políticos e sociais do Brasil. É presidida pelo senador do PCdoB do Ceará, Inácio Arruda.

Participaram do evento representantes do Partido Comunista Libanes, Coletivo de tradutores Vila Vudu, IECInt, Abraviet, PCB, UJS, Cebrapaz, Fundação Maurício Grabois, UBM, CTB, Revista Zunai dentre outras entidades.

 
FONTE: PORTAL VERMELHO. Da Redação do Vermelho, Érika Ceconi e Mariana Viel

domingo, 17 de março de 2013

DOMENICO LOSURDO E O "RETORNO" DA LUTA DE CLASSES.


Acaba de ser publicado na Itália, pela Editora Laterza o novo livro do filósofo político marxista Domenico Losurdo: A luta de classes - Uma história política e filosófica. Em mais um trabalho de fôlego, de 388 páginas, o filósofo marxista italiano enfrenta polêmicas sobre temas instigantes contra as correntes oportunistas que negam a luta de classes ou distorcem seu sentido. A entrevista foi realizada por Paolo Ercolari, para a revista italiana Critica Liberale.

Domenico Losurdo é um dos estudiosos italianos de filosofia mais traduzidos no mundo. Todos os seus livros tiveram de fato edições em inglês, britânico e americano, alemão, francês, espanhol e também em português, chinês, japonês e grego. Seguramente, esquecemos de mencionar algum idioma. Os jornais Financial Times e Frankfurter Allgmeine Zeitung, entre outros, lhe dedicaram páginas inteiras. Um tratamento que contrasta com o que lhe é reservado no próprio país, onde frequentemente, de maneira deliberada, os seus trabalhos são objeto de um silêncio bem estudado. O que, entretanto, não incide sobre suas vendas, tendo em conta as reiteradas edições dos seus livros. 

Nos últimos dias veio à luz o seu novo trabalho intitulado A luta de classes - Uma história política e filosófica (388 páginas, Ed. Laterza). Por esta razão, Critica Liberale o entrevistou na sua casa/biblioteca, situada numa colina no entorno da cidade italiana de Urbino. (Paolo Ercolari)

Critica Liberale: Professor Losurdo, como explica esta ideia de escrever um livro sobre a luta de classe, conceito tido por muitos como morto?
Domenico Losurdo: Enquanto grassa a crise econômica, engrossam os ensaios que evocam o “retorno da luta de classe”. Tinha desaparecido? Na realidade, os intelectuais e os políticos que proclamavam o crepúsculo da teoria marxista da luta de classe cometiam um duplo erro. Por um lado, embelezavam a realidade do capitalismo. Nos anos 1950, Ralf Dahrendorf afirmava que se estava verificando um “nivelamento das diferenças sociais” e que aquelas mesmas modestas “diferenças” eram somente o resultado do mérito escolástico; contudo, bastava ler a imprensa estadunidense, até a mais alinhada, para dar-se conta de que mesmo nos países-guias do Ocidente subsistiam pavorosos bolsões de uma miséria que se transmitia hereditariamente de uma geração a outra. Ainda mais grave era o segundo erro, de caráter mais propriamente teórico. Eram os anos em que se desenvolvia a revolução anticolonial no Vietnã, em Cuba, no Terceiro Mundo; nos Estados Unidos os negros lutavam para pôr fim à supremacia branca, ao sistema de segregação, discriminação e opressão racial que ainda pesava sobre eles. Os teóricos da superação da luta de classes estavam cegos ante as ásperas lutas de classes que se desenvolviam sob seus olhos.

Critica Liberale: Se não entendemos mal, você amplia bastante o campo semântico da expressão “luta de classes”, compreendendo em seu interior uma gama de problemas e questões muito mais amplas?
DL: Sim, Marx e Engels chamavam a atenção não somente para a exploração que tem lugar no âmbito de um país singular, mas também para a “exploração de uma nação por parte de outra”. Outrossim, nesse segundo caso temos a ver com uma luta de classe. Na Irlanda, onde os camponeses eram sistematicamente expropriados pelos colonos ingleses, a “questão social” assumia a forma de “questão nacional”, e a luta de libertação nacional do povo irlandês não só era uma luta de classes, mas uma luta de classes de particular relevância: é nas colônias de fato – observa Marx – que “a intrínseca barbárie da civilização burguesa” se revela na sua nudez e em toda a sua repugnância.

Critica Liberale: Pode-se explicar melhor a gênese histórico-filosófica desta sua leitura tão incomum a respeito de categorias tradicionais?
DL: A cultura do século 19 era chamada a responder a três desafios teóricos. Em primeiro lugar, de que modo explicar a marcha irresistível do Ocidente, que com o seu expansionismo colonial subordinava todo o planeta, esmagando até mesmo países de antiquíssima civilização como a China? Em segundo lugar, enquanto triunfava no plano internacional, o Ocidente se via ameaçado internamente pela revolta das massas populares que pela primeira vez irrompiam, e de maneira avassaladora, na cena da história. Pois bem, quais eram as causas desse fenômeno inaudito e aflitivo? Em terceiro lugar, o Ocidente apresentava um quadro bastante diferenciado de país a país. Se na Inglaterra e nos Estados Unidos assistia-se a um desenvolvimento gradual e pacífico em nome de uma liberdade bem ordenada, totalmente diferente era o caso da França: aqui à revolução se sucedia a contrarrevolução, por sua vez varrida por uma nova revolução; a partir de 1789, os mais diferentes regimes políticos (monarquia absoluta, monarquia constitucional, terror jacobino, ditadura militar napoleônica, império, república democrática, bonapartismo) se sucederam um ao outro, sem que jamais se realizasse a liberdade com ordem. Bem, qual era a maldição que pesava sobre a França? A todos estes três desafios teóricos a cultura dominante do século 19 respondia remetendo de um ou outro modo à “natureza”. Para dizer com Disraeli, a raça é “a chave da história”, “tudo é raça e não existe outra verdade”, e a definir uma raça “é só uma coisa, o sangue”; esta era também a opinião de Gobineau. Explicavam-se assim o triunfo do Ocidente ou da superior raça branca e ariana, a revolta daqueles “bárbaros” e “selvagens” que eram os operários e as convulsões incessantes de um país como a França, devastado pela miscigenação. Em outros momentos, a natureza a que se remetia tinha um significado mais brando. Para Tocqueville não havia dúvidas: o triunfo da “raça europeia” sobre “todas as demais raças” era vontade da Providência; a conduta mais ordenada da Inglaterra e dos Estados Unidos era a prova do mais robusto senso moral e senso prático dos anglo-saxões em comparação com os franceses, os quais eram devastados pela loucura revolucionária ou pelo “vírus de uma espécie nova e desconhecida”. Como se vê, o paradigma racial em sentido estrito (caro a Gobineau e Disraeli) tendia a ser substituído pelo paradigma etnológico-racial e pelo psicopatológico. Permanecia a referência a uma “natureza” mais ou menos imaginária e o abandono do terreno da história.

Foi sobre a onda da luta contra esta visão que Marx e Engels elaboraram a teoria da luta de classe. A marcha triunfal do Ocidente não se explicava nem com a hierarquia racial nem com os desígnios da Providência; ela exprimia o expansionismo da burguesia industrial e a sua tendência a construir o “mercado mundial” esmagando e explorando os povos e países mais débeis e mais atrasados. Os protagonistas das revoltas populares no Ocidente não eram bárbaros nem loucos; eram proletários, em seguida ao desenvolvimento industrial, tornavam-se cada vez mais numerosos e adquiriam uma consciência de classe mais madura. Em um país como os Estados Unidos o conflito social burguesia/proletariado era menos agudo, mas somente porque a expropriação e a deportação dos nativos permitia transformar em proprietários de terras uma parte consistente de proletários, enquanto a escravização dos negros tornava possível o controle férreo das “classes perigosas”. Mas tudo isto não tinha nada a ver com um superior senso moral e prático dos americanos, como foi confirmado pela sangrentíssima guerra civil, que entre os anos de 1861 e 1865 viu o confronto entre a burguesia industrial do Norte e a aristocracia proprietária de terras e escravista do Sul e, na última fase do conflito, os escravos (arregimentados no exército da União) contra os seus patrões ou ex-patrões.

Para compreender a ação histórica, é necessário remeter à história e à luta de classes, aliás às “lutas de classes” que assumem formas múltiplas e variegadas, entrelaçam-se umas às outras de modo peculiar e conferem uma configuração sempre diferente às diversas situações históricas.

Critica Liberale: O seu discurso parece, portanto, partir de uma leitura nova do legado de Marx e Engels?
DL: A minha leitura de Marx e Engels pode surpreender, mas releiamos o Manifesto do Partido Comunista: “A história de toda sociedade que existiu até agora é a história das lutas de classes” e estas assumem “formas diversas”. O recurso ao plural faz entender que aquela entre o proletariado e a burguesia ou entre o trabalho assalariado e as classes proprietárias é apenas uma das lutas de classes. É também a luta de classes de uma nação que sofre a exploração colonial. Não é necessário, enfim, esquecer um ponto sobre o qual Engels insiste de modo particular: “a primeira opressão de classe coincide com aquela do sexo feminino por parte do masculino”; no âmbito da família tradicional “a mulher representa o proletariado”. Estamos, portanto, em presença de três grandes lutas de classes: os explorados e oprimidos são chamados a modificar radicalmente a divisão do trabalho e as relações de exploração e de opressão que subsistem em nível internacional, em um país singular e no âmbito da família.

Critica Liberale: Um discurso que vai longe, mas que pode ajudar a ler o passado com uma ótica nova.
DL: Somente assim podemos compreender o século passado. Nos nossos dias, um historiador de grande sucesso, Niall Ferguson, escreve que na grande crise histórica da primeira metade do século 20, a “luta de classe”, aliás, “a presumida hostilidade entre o proletariado e a burguesia”, tem desempenhado um papel bem modesto; bem mais relevantes teriam sido as “divisões étnicas”. Contudo, argumentando de tal maneira, mantém-se firme no ponto de vista do nazismo que lia a guerra no Leste como uma “grande guerra racial”. Mas quais eram os objetivos reais daqueles? São explícitos os discursos secretos de Heinrich Himmler: “Se não enchermos os nossos campos de trabalho de escravos – neste aspecto posso definir a coisa de modo líquido e claro – de operários-escravos que construam as nossas cidades, os nossos povoados, as nossas fábricas, sem ter em conta as perdas”, o programa de colonização e germanização dos territórios conquistados na Europa oriental não poderá ser realizado. A luta de todo um povo para evitar o destino de escravos sob domínio de uma suposta raça de senhores e patrões é claramente uma luta de classes!

Um acontecimento análogo ocorre na Ásia, onde o Império do Sol Nascente imita o Terceiro Reich e retoma e radicaliza a tradição colonial. A luta de classes de todo um povo que luta para escapar da escravização encontra seu intérprete em Mao Zedong, que em novembro de 1938 sublinha a “identidade entre a luta nacional e a luta de classes” que veio a se produzir nos países contra os quais o imperialismo japonês investiu. Como na Irlanda da qual fala Marx, a “questão social” se apresenta concretamente como “questão nacional”, também na China daquele tempo a forma concreta assumida pela “luta de classes” é a “luta nacional”.

Critica Liberale: A sua interpretação é tão heterodoxa, que poderiam abater-se sobre você, como ocorreu frequentemente no passado, críticas acesas também da parte da esquerda, além daquelas do mundo liberal.
DL: Desafortunadamente, também na esquerda “radical” difundiu-se a visão de que a luta de classes se referiria exclusivamente ao conflito entre o proletariado e a burguesia, entre o trabalho assalariado e as classes proprietárias. Chama a atenção de modo negativo a influência de uma eminente filósofa, Simone Weil, segundo a qual a luta de classes seria “a luta daqueles que obedecem contra aqueles que comandam”. Não é este o ponto de vista de Marx e Engels. Em primeiro lugar, aos seus olhos, é luta de classes também a que é conduzida por aqueles que exploram e oprimem. Ainda querendo concentrar-se na luta de classes de caráter emancipador, esta pode muito bem ser conduzida do alto, por “aqueles que comandam”. Tome-se a Guerra de Secessão nos Estados Unidos. No campo de batalha se enfrentavam não os poderosos e os humildes, os ricos e os pobres, mas dois exércitos regulares. E, todavia, desde o início, Marx assinalou que o Sul era o campeão declarado da causa do trabalho escravagista e o Norte o campeão mais ou menos consciente da causa do trabalho “livre”. De modo totalmente inesperado, a luta de classes pela emancipação do trabalho tomava corpo em um exército regular, disciplinado e poderosamente armado. Em 1867, publicando o primeiro livro de O Capital, Marx indicava na Guerra de Secessão o “único acontecimento grandioso da história dos nossos dias”, com uma formulação que reclama à memória a definição da revolta operária de junho de 1848 como “o acontecimento mais colossal na história das guerras civis europeias”. A luta de classes, a própria luta de classes emancipadora, pode assumir as formas mais diversas.

Depois da revolução de outubro, Lênin sublinha repetidamente : “A luta de classes continua; apenas mudou a sua forma”. O empenho para desenvolver as forças produtivas, melhorando as condições de vida das massas populares, ampliando a base social de consenso do poder soviético e reforçando a sua capacidade de atração sobre o proletariado ocidental e sobre os povos coloniais, tudo isto constituía a forma nova assumida na Rússia soviética pela luta de classes.

Critica Liberale: Como explicar este impressionante mal entendido da teoria da luta de classes exatamente da parte da esquerda, que sobre a teoria do conflito social construiu boa parte da própria ação histórica?
DL: A esquerda, mesmo a radical, resiste a compreender a teoria da luta de classes em Marx e Engels porque é influenciada pelo populismo. O populismo se apresenta aqui em duas formas conectadas entre si. A primeira já começamos a vê-la: é a transfiguração dos pobres, dos humildes, vistos como os únicos depositários dos autênticos valores morais e espirituais e os únicos possíveis protagonistas de uma luta de classes realmente emancipadora. É uma visão de que o próprio Manifesto do Partido Comunista já zombava, ao criticar o “ascetismo universal” e o “rude igualitarismo” e acrescenta: “nada mais fácil do que dar ao ascetismo cristão uma mão de verniz socialista”. Segundo Marx e Engels, esta visão caracteriza “os primeiros movimentos do proletariado”. Na realidade, esta primeira forma do populismo se manifestou com força na Rússia soviética, quando muitos operários, inclusive filiados ao partido bolchevique, condenaram a NEP como uma traição aos ideais socialistas. Uma réplica de tais processos e conflitos se manifestou na China quando, em polêmica contra a transfiguração do pauperismo e a visão do socialismo como distribuição “igualitária” da miséria, Deng Xiaoping chamou a realizar a “prosperidade comum”, a ser conseguida etapa após etapa (e mesmo através de múltiplas contradições). É nesse quadro que aparece o slogan “Ficar rico é glorioso!”, que suscitou tanto escândalo também na esquerda ocidental.

A segunda forma de populismo encontra sua expressão mais eloquente, e mais ingênua, de novo em Simone Weil quando nos anos 1930 imagina um enfrentamento homogêneo no plano planetário e decisivo de uma vez para sempre: enfrentar-se-iam o “conjunto dos patrões contra o conjunto dos operários”; seria uma “guerra conduzida pelo conjunto dos aparatos do Estado e os estados maiores contra o conjunto dos homens válidos e em idade de empunhar armas”, uma guerra que vê o enfrentamento entre o conjunto dos generais e o conjunto dos soldados! Nesta perspectiva não está mais o problema da análise das formas de luta de classes de tempos em tempos diferentes nas diversas situações nacionais e nos diversos sistemas sociais. Em toda a parte estaria em ação uma única contradição em estado puro: aquela que contrapõe os ricos e os pobres, os poderosos e os humildes.

É evidente a influência que esta segunda forma de populismo continua a realizar ainda nos nossos dias, em particular na esquerda ocidental: quando no afortunadíssimo livro de Hardt e Negri, O Império, lemos a tese segundo a qual no mundo de hoje a uma burguesia substancialmente unificada em nível planetário se contraporia uma “multidão”, esta própria unificada pelo desaparecimento das barreiras estatais e nacionais, quando lemos isto, não podemos deixar de pensar na visão que foi cara a Simone Weil.

Critica Liberale: Esta sua empenhada reconstrução do problema fornece uma chave de leitura para hoje?
DL: Certamente! Permanecem em ação as três formas fundamentais da luta de classes analisadas por Marx e Engels. Nos países capitalistas avançados a crise econômica, a polarização social, a crescente desocupação e precarização, o desmantelamento do Estado social, tudo isto torna agudo o conflito entre o trabalho assalariado e uma elite privilegiada cada vez mais restrita. É uma situação que compromete algumas das conquistas sociais das mulheres, cuja luta de emancipação torna-se particularmente difícil em países que não alcançaram o estádio da modernidade. Quanto ao Terceiro Mundo, a luta de classes continua ainda a manifestar-se em medida considerável como luta nacional. Isto é imediatamente evidente para o povo palestino, cujos direitos nacionais são pisoteados pela ocupação militar e pelos assentamentos coloniais. Mas a dimensão nacional da luta de classes não desapareceu nem sequer nos países que se libertaram da sujeição colonial. Estes são chamados a lutar não contra uma, mas também contra dois tipos de desigualdade: por um lado devem reduzir a disparidade social em seu interior; por outro lado, devem preencher ou atenuar a distância que os separa dos países mais avançados. Os países que, sobretudo na África, descuidaram dessa segunda tarefa e que não compreenderam a necessidade de passar em dado momento da fase militar à fase econômica da revolução anticolonial, tais países não têm nenhuma real independência econômica e estão expostos à agressão ou à desestabilização promovida ou favorecida a partir do exterior.

Temos, portanto, três formas de lutas de classes emancipadoras, entre as quais não há uma harmonia pré-estabelecida: como combiná-las nas diversas situações nacionais e em nível internacional de modo que possamos confluir em um único processo de emancipação, é este o desafio com que tem que se defrontar uma esquerda autêntica.

FONTE: 
1- Blog da Resistência: www.zereinaldo.blog.br  
2- Tradução: José Reinaldo Carvalho - Portal Vermelho:

segunda-feira, 11 de março de 2013

PEPE ESCOBAR: “EL COMANDANTE” DEIXOU O PRÉDIO.


Que inspirador, que iluminador assistir às reações dos líderes mundiais à morte de El Comandante Hugo Chávez da Venezuela. O presidente do Uruguai, Jose Mujica – homem que rejeita 90% do salário, porque insiste que precisa de muito menos para atender às suas necessidades básicas – mais uma vez lembrou que, para ele, Chávez sempre foi “o líder mais generoso que jamais conheci”; e elogiou a “fortaleza da democracia” da qual Chávez foi grande construtor.

Compare-se isso com o presidente dos EUA, Barack Obama – no que parece ser requentamento, tipo copiar-colar, de circular interna da Casa Branca – reafirmando o apoio dos EUA “ao povo venezuelano”. 

Estaria apoiando o mesmo “povo venezuelano” que elegeu e reelegeu Chávez, sem interrupção, desde o final dos anos 1990s? Ou é apoio só ao “povo venezuelano” que vive a entornar martinis em Miami, enquanto demoniza Chávez como perigoso comunista do mal? 

El Comandante pode até já ter deixado o prédio – o corpo derrotado pelo câncer – mas a demonização post mortem prosseguirá para sempre. Uma das razões disso salta aos olhos. A Venezuela é dona da maior reserva de petróleo do mundo. Washington e aquela cidadela kafkiana, em ruínas, também conhecida como União Europeia vivem a cantar All You Need is Love, sem parar, aos pés daqueles fantasmagóricos, espectrais, feudais petromonarcas do Golfo Persa (nunca, claro, para “o povo”), em troca do petróleo deles. Mas, diferente disso, na Venezuela, El Comandante Chávez apareceu lá com a ideia subversiva de usar a riqueza do petróleo para, pelo menos, minorar o sofrimento dos venezuelanos. O turbocapitalismo ocidental, como é bem sabido, não faz redistribuição de riqueza, nem dá força e poder a valores comunitários. 

Odeio você, cabron

Segundo o Ministro de Relações Externas, o vice-presidente Nicolas Maduro – e não o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, íntimo dos chefes militares – assumirá a presidência até as próximas eleições, a serem realizadas dentro de 30 dias. Tudo autoriza a prever que Maduro será eleito. A oposição política na Venezuela é uma piada em formato de colcha de retalhos. Pode-se começar a pensar em chavismo sem Chávez – para imenso desgosto e ira infinita da vasta indústria pan-americana e pan-europeia de odiadores de Chávez. 

Não aconteceu por acaso, que El Comandante tenha-se tornado imensamente popular entre “o povo”, não só em vastas regiões da América Latina mas, também, em todo o Sul Global. Esse “o povo” – e não é o mesmo “o povo” de que Barack Obama fala – viu claramente a correlação direta que há entre o neoliberalismo e a expansão da miséria (hoje, milhões de europeus estão, hoje, conhecendo o mesmo gosto amargo). Especialmente na América do Sul, foi a reação popular contra o neoliberalismo que desencadeou – mediante eleições democráticas – uma onda de governos de esquerda na última década, da Venezuela à Bolívia, Equador e Uruguai. 

O governo Bush detestou tudo isso – para dizer o mínimo. Nada pôde fazer contra Lula no Brasil – operador inteligente que vestiu terno neoliberal (Wall Street o adorava), mas manteve o coração progressista. Washington – incapaz de pensar fora da caixa dos vícios dos golpes e mais golpes dos anos 1960s e 1970s – supôs que Chávez seria o elo fraco. Assim aconteceu, em abril de 2002, o golpe chefiado por uma facção de militares, que pôs no poder (digamos!) um rico empresário venezuelano. O golpe, apoiado pelos EUA, durou menos de 48 horas; Chávez foi devidamente reempossado, apoiado pelo “o povo” (o verdadeiro) e grande parte do Exército. 

Exatamente por isso, nada há de surpreendente em Maduro ter anunciado, algumas horas antes da morte de El Comandante, que dois empregados da embaixada dos EUA estavam sendo expulsos do país: o adido David Delmonaco e o adido-assistente Devlin Costal. Delmonaco foi acusado de fomentar – e o que mais essa gente “fomenta”?! – um golpe, com alguns grupos de militares venezuelanos. Esses gringos não aprendem! 

Há entre os chavistas imensíssima suspeita de que El Comandante tenha sido envenenado – e bem se pode prever algum tipo de replay talvez um pouco mais complexo do que aconteceu a Yasser Arafat em 2004. Pode ter sido envenenado por Polônio-210 radiativo, como no caso de Arafat. A CIA, menina dos olhos de Hollywood, talvez tenha também algumas ideias sobre mais esse assassinato. 

Está aberto o veredicto sobre que exato tipo de revolucionário foi Chávez. Sempre elogiou todos, de Mao a Che, no Pantheon revolucionário. Sem dúvida foi líder popular muito habilidoso, com fino olhar geopolítico para identificar os padrões centenários de subjugação da América Latina. Daí suas repetidas referência à tradição revolucionária hispânica, de Bolívar a Martí. 

O mantra de Chávez era que a única saída para melhor futuro na América Latina teria de ser a integração; daí os muitos e muitos mecanismos que criou e impulsionou, da ALBA (Aliança Bolivariana) a Petrocaribe, do Banco do Sul à UNASUL (União dos países latino-americanos). 

Quanto ao seu “socialismo do século 21”, que escapava de todas as camisas-de-força ideológicas, fez mais para explorar o verdadeiro espírito dos valores comuns e partilhados – como um antídoto contra a putrefação do capitalismo financeiros super turbinado – que toneladas de análises acadêmicas neomarxistas. 

Não surpreende que, para a gangue e asseclas de Goldman Sachs, Chávez pareça mais perigoso que a Peste Negra. A Venezuela comprou jatos Sukhoi de combate; criou e aprofundou laços estratégicos com dois grandes BRICS, Rússia e China – além de outros atores em todo o Sul Global; mantém mais de 30 mil médicos cubanos em treinamento de medicina preventiva, vivendo em comunidades pobres – o que gerou uma explosão de jovens venezuelanos estudando medicina. 

Números impressionantes contam grande parte da história que tem de ser conhecida. O déficit público na Venezuela não passa de meros 7,4% do PIB. A dívida pública alcança apenas 51,3% do PIB – muito abaixo da média da União Europeia. O setor público – ao contrário do que pretendem as apocalípticas acusações de “comunismo!” – equivale a apenas 18,4% da economia, menos que a estatizada França e que toda a Escandinávia. Em termos de geopolítica do petróleo, as quotas são estabelecidas pela OPEC; assim, o fato de que a Venezuela esteja exportando menos para os EUA implica que está diversificando seu portfólio de clientes (e exportando mais e mais para a China, parceira estratégica). 

E eis o grande trunfo: a pobreza desgraçava 71% dos cidadãos venezuelanos em 1996. Em 2010, a porcentagem já fora reduzida para 21%. Para análise séria da economia venezuelana na era Chávez, leia artigo publicado em: 30/11/2012, News, Views and Analysis, Chris Carlson em: “What the Statistics Tell Us about Venezuela in the Chavez Era”. 

Anos atrás, foi preciso que aparecesse um romancista soberbo, como Garcia Márquez, para ver e explicar que o segredo de El Comandante estava em ele ser o grande Comunicador; era um deles (do seu “povo”, não no sentido de Barack Obama); da aparência física às atitudes e maneirismos, à cordialidade, ao palavreado (o mesmo se aplicava a Lula, em relação a muitos brasileiros). 

Assim sendo, enquanto Oliver Stone sonda o mercado cinematográfico, temos de esperar por algum Garcia Márquez, que eleve Chávez ao Walhalla literário. Uma coisa é certa: em termos da narrativa do Sul Global, a história recordará que El Comandante, sim, deixou o prédio. Mas, depois dele, o prédio nunca mais foi o mesmo.

Notas dos tradutores

[1] A expressão tradicional, já idiomática, é Elvis has just left the building [Elvis deixou o prédio], expressão que se usava, ao final dos concertos de Elvis Presley, para que a multidão se dispersasse. 

Fonte: Blog Redecastorphoto. 
Traduzido pelo coletivo de tradutores Vila Vudu.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A QUEM INTERESSA O VOTO NULO?


Ultimamente, temos presenciado manifestações públicas, defendendo com efêmera conveniência, o “voto nulo” nestas eleições municipais de Uberaba, inclusive por parte de profissionais da política que edificaram suas carreiras às custas de votos válidos. 

Embora o “voto nulo” esteja previsto em nossa Democracia, para não dizer apenas que se trata de um ato irresponsável, tal postura é covarde, abstém o cidadão de cumprir seu dever social e ainda; sobrepõe os caprichos particulares e individuais aos interesses coletivos, resultando a recusa da participação popular e a reivindicação dos seus direitos.

Para compreensão melhor da questão, comentaremos acerca da relação “igualdade versus liberdade”, tão bem debatida pelo pensador político francês, A. Tocqueville, ao dissertar seus preceitos sobre Democracia, senão vejamos:
A igualdade, que torna os homens independentes uns dos outros, leva-os a contrair o hábito e o gosto em obedecer exclusivavente a sua vontade, em suas ações particulares. Esta independência total, da qual desfrutam continuamente, face a face com seus pares e na sua prática de vida privada, os inclina a considerar com insatisfação toda autoridade e logo lhes sugere a ideia e o amor pela liberdade política. (TOCQUEVILLE, 1961:t. I, v.1) 

E continua a argumentação, o referido escritor:
Dentre todos os efeitos políticos que a igualdade de condições produz, este amor pela independência é o que primeiro chama a atenção e o que mais assusta os espíritos inseguros, e não se pode dizer que isto seja absolutamente despropositado, pois a anarquia possui feições mais assustadoras entre os países democráticos que em outra parte. Como os cidadãos ficam sem nenhuma ação uns diante dos outros, no instante em que se subtrai o poder nacional que mantém todos em seus lugares, parece que a desordem atingirá em breve a sua culminação e que, se cada cidadão se retirar para o seu lado, o corpo social de repente se reduzirá a pó. (idem, 1961: t. I, v.1)


Stuart Mill, um dos pensadores mais influentes do século XIX,  ao se referir sobre a importância do voto, defende que não se trata de um direito natural; e sim, uma forma de poder.
Não devem existir párias em uma sociedade adulta e civilizada. (…) As pessoas que, sem consulta prévia, se apoderam de poderes ilimitados sobre os destinos dos outros degradam os seus semelhantes. (…) É natural que os que são assim degradados não sejam tratados com a mesma justiça que os que dispõem de uma voz. Os governantes e as classes governantes têm a necessidade de levar em consideração os interesses e os desejos dos que exercem o direito de voto; mas os interesses e os desejos dos que não o exercem está a seu critério atendê-los ou não, e, por mais honestamente intencionados que sejam, geralmente estão ocupados demais com o que devem levar em consideração para terem tempo para se preocupar com o que podem negligenciar impunemente. (MILL, 1981: 89)


Desta forma, o voto nulo não exclui a possibilidade de outros que votam validamente decidirem por todos. Aliás, permite livremente àqueles que opinam no processo eleitoral “correrem o risco” de se escolher desastrosamente nossos governantes; talvez, viabilizando tranquilamente, a eleição de oportunistas, políticos demagogos e sem compromisso com a coletividade.

Contudo, o exercício do voto válido é uma responsabilidade consigo mesmo, com a sua família, amigos, colegas de trabalho, ou seja, com o nosso povo. Votar nulo significa anular o compromisso com a vivência e convivência, significa anular nosso direito de exigir políticas públicas e negar dias melhores em nossas vidas! 


REFERÊNCIAS:

MILL, J. S. Considerações sobre o governo representativo. Brasília/DF, UnB, 1981.

TOCQUEVILLE, A. De la democracie em Amérique. Paris, Gallimard, 1961.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O 18 BRUMÁRIO DE LUIS BONAPARTE E O “PMDB DE ANDERSON ADAUTO”. ILUSÃO E APARÊNCIA? OU MERA COINCIDÊNCIA?

O texto “O 18 Brumário de Luís Bonaparte” foi publicado por Karl Marx, em 1852 e descreve um golpe de Estado recém-ocorrido na época, na França, por Carlos Luís Napoleão Bonaparte (Napoleão III); assim como fez 48 anos antes, seu Tio, o Grande Napoleão Bonaparte.

Essa “coincidência” ou “repetição” de Napoleões no poder, inspirou MARX (1851-1852, cap. I, p. 03) a elaborar certas reflexões quanto à análise científica da realidade, considerando a afirmativa de Hegel, onde “os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem duas vezes; todavia, acrescentando que a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.

Aliás, o que Marx fez nesta obra de mais revolucionário foi perceber:

Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. 
(MARX, 1851-1852)


Explicando melhor, (CARLOS, 2006) apesar de serem atores da história, as pessoas só são capazes de agir nos limites que a realidade impõe, através das condições; e não, baseadas em desejos ou meros caprichos e atos individuais. E quiçá, seja o maior erro cometido pelo Alcaide, ignorar a realidade concreta.

Desta forma, utilizaremos a mesma metodologia, isto é, a concepção materialista da história, para correlacionar a “cena política” e comentar, ainda em tempo, sobre a tentativa frustrada de o atual Prefeito dominar o PMDB de Uberaba e “lançar” o seu candidato neste processo eleitoral.

Outrossim, continuando nossa argumentação, o genial autor considera a “cena política” nas sociedades capitalistas, como um espaço de luta entre partidos e organizações, uma espécie de superestrutura. Seria como fosse uma realidade superficial, enganosa (BOITO Jr., 2002) e deve ser desmistificada e desmascarada no intuito de acessar-se a realidade profunda encoberta pelas aparências e ilusões. Contudo, a análise científica social elucidaria os reais interesses, conflitos e pretensões. E também talvez, seria o segundo maior erro do atual Chefe do Executivo, acreditar em sua própria fantasia.

Retomando o caso concreto, conforme já mencionado, ignorar a realidade concreta e suas condições, em favor de uma “cena política” (na concepção de Marx nas sociedades capitalistas), onde o Senhor Prefeito criou uma estrutura artificial em seu partido (na época, o PMDB), atribuindo uma superestrutura paralela à realidade profunda, desconsiderando seus estatutos, regimentos, realizando uma Convenção Eleitoral fictícia, de aparências, confundindo os eleitores com o seu candidato/secretário; e principalmente, atropelando suas principais lideranças locais, especialmente, o Deputado Paulo Piau e o Vereador Tony Carlos, foram equívocos irreversíveis.

Esse exercício de desmascaramento não é uma imputação coercitiva, é resultado da conclusão decorrente da análise do discurso e da prática política no cotidiano. A realidade superficial está subordinada à realidade profunda, que independe das vontades. Ademais, nesta dialética entre realidade superficial e realidade profunda, um dos principais personagens nestas eleições, fracassou porque o fundo do problema não seria apenas convencer seus aliados e a maioria dos partidos da base de sustentação de seu Governo quanto à sua cena política; e sim, a impossibilidade de conciliar seus interesses individuais e intenções com esses principais partidos (destacando particularmente: o PR e o PCdoB).

Enfim, igualmente como Marx observou, servindo de uma metáfora teatral; assim como Napoleão III, Anderson Adauto agora usa a candidatura do PT, tenta construir sua imagem de grande super-herói; contudo, devendo temer o desenrolar desta encenação teatral como um ato e entreato trágico, dramático ou até mesmo cômico.

REFERÊNCIAS:

BOITO JR, Armando. Cena política e interesse de classe na sociedade capitalista – comentário em comemoração ao sesquicentenário da publicação de O Dezoito Brumário de Luis Bonaparte. Revista Crítica Marxista Brasil. Volume 15. UNICAMP. Campinas/SP. 2002.

CARLOS, Cássio Starling. O 18 Brumário de Luís Bonaparte: A discreta farsa da burguesia. São Paulo, 2006.

MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. Tradução revista por Leandro Konder. Traduzido do original inglês The eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte. 1851-1852.